segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Carnaval sem cordas não é novidade em Salvador

Carnaval em Salvador sempre foi sem cordas. Blocos eram formados pelas pessoas da elite soteropolitana que não queriam se juntar ao povão, ou seja, aos pipocas. O carnaval para estas pessoas era nos clubes, Fantoches da Euterpe, Cruz Vermelha, Português, Espanhol.

Fantoches da Euterpe - 2 de Julho

   Fonte: Texto e Cia. Créditos: Jornal A Tarde.

Clube Cruz Vermelha - Campo Grande


   Fonte: http://www.salvador-antiga.com/campo-grande/antigo-campo-grande.htm.

Clube Espanhol - Barra

    Fonte: http://www.clubeespanhol.com.br/historico.


Clube Português - extinto

    Fonte: Aratu online.


De lá de dentro eles ficavam informados sobre o furdunço na cidade , que certamente achavam gosto, com bons artistas fazendo a festa junto com os foliões locais e turistas que valorizavam a diversidade no carnaval de Salvador. Um baile a fantasia a céu aberto. A elite não aguentou ver quanto era bom sair na rua dançando sem muros. Os trios que tocavam para os pipocas eram: Tapajós, Marajós, Saborosa. O Dodô e Osmar, com ambos os inventores cantando  com emoção a cada carnaval que eles lembravam se seu invento, o quanto tinha crescido e como agradava ao povo, e tocavam com amor para os pipocas. Mas é digno de nota, que por muito tempo foram abandonados pelos organizadores da festa. Além da Caetanave (Com Caetano, Gal e Gil) todos os três dias de carnaval do Campo Grande à Praça da Sé e da Sé ao Campo Grande. Era uma delícia, inesquecível. As imagens abaixo destaca os trios faziam o carnaval dos pipocas.

Trio elétrico Tapajós

Fonte: Bahia de todos os povos: https://abahiadetodosospovos.wordpress.com/tag/orlando-tapajos-cria-a-caetanave/

Trio elétrico Marajós




Trio elétrico Saborosa

Fonte: IBahia

                                                Fonte: IBahia


 Trio elétrico Dodô e Osmar
Fonte: Família Macedo. Arquivo pessoal.


Trio elétrico Caetanave


Fonte: http://caetanoendetalle.blogspot.com.br/2015/07/1980-ave-caetano.html

Com este carnaval da delícia os ricos saíram dos clubes e formaram os seus blocos, não poderiam sair jamais junto com aquele povo pobre e preto. Basta observar a cor do pipocas. Assim surgiram: Os Internacionais que cada ano saiam com as fantasias mais lindas. Os Corujas, Top 69, o Bloco do Barão, muito depois o Camaleão com Luis Caldas. Todos estes não aceitavam pretos como folião, mas não compartilhava a beleza de ter os melhores artistas tocando para eles e sim para os pipocas. O não-negros, inconformados começaram a contratar estas bandas para os seus blocos e elas iam ganhar mais dinheiro. 

Outros blocos que surgiram depois, os de índio: Apaches, Comanches, e ainda outros variados como os Fidalgos, os Estudantes, Secos e Molhados, Românticos, estes com pretos dentro de suas cordas. Depois o Frenesi; Banda Salamandra, Scorpius e atual Chiclete com Banana, com o Bell que saía no Bloco Traz os Montes. E o Lavem Elas, bloco feminino extinto pelo machismo soteropolitano. Num ano de carnaval os homens bateram tanto nestas mulheres que nunca mais o bloco saiu.

Tempo em que os blocos faziam fantasia carnavalesca para os seus foliões, hoje esta tradição fica apenas para as maravilhosas Muquiranas e o bloco afro Ilê Ayiê. Agora o carnaval deixou de ser a festa da diversidade para ser a da igualdade nas camiseta chamadas Abadás. Antes o carnaval de Salvador era um baile de fantasia a céu aberto, os blocos de trio saíam de macacão, ou de mortalha cada um mais lindo que  o outro, os outros citados acima cada ano com uma fantasia diferente, era lindo de apreciar. A avenida ficava colorida com as mamães sacode coloridas dos blocos de trio, a fantasia do pipoca era a mortalha. Tínhamos as escolas de samba: Juventude do Garcia, Filhos do Tororó, Diplomatas de Amaralina, Ritmistas do Samba, Ritmos da Liberdade, Bafo da Onça e a Escola de Samba do Politeama.  Infelizmente o Brasileiro não é bom com história e memórias, esquecem fácil e não lidam bem com preservação das tradições e por esta razão propalam coisas antigas como novidade. Não são dados à solução de continuidade, mudam tanto as coisas que termina perdendo a essência. Carnaval hoje em Salvador é com: O Rappa, Anita, Pablo dentre outros.

Fala aqui uma pessoa que tem 50 anos ininterruptos de carnaval, uma carnaval maníaca. Esta que na sexta-feira ia ver o Alerta Mocidade, hoje Alerta Geral, o Alvorada e Olodum na sexta-feira depois das 23 horas no centro histórico, subindo pela Carlos Comes. A mesma que ficava até a quarta-feira de cinzas no encontro dos trios na Praça Castro Alves ao som de: Os Novos Baianos ( Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e Luiz Galvão), Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa. Estas eram as atrações do carnaval dos pipocas. ACM Neto, certamente não sabia, era um bebê na época. Até os trios elétricos tinham modelos diferentes como vimos acima. 

Este era o verdadeiro carnaval dos pipocas, o carnaval de Salvador que tanto os governos municipal e estadual, vendo o fluxo de turistas atraído pelo carnaval resolveram gananciosamente organizar e descaracterizar a festa retirando a essência e a festa se tornou a festa da extorsão tanto por parte dos blocos quanto por parte da prefeitura com a quantidade de taxas que tanto ambulantes quanto blocos pagam para saírem às ruas para fazer a efêmera alegria do povo.  Eles pagam o ISC (Imposto Sobre Circulação), ou seja paga para sair dançando e tocando. O carnaval soteropolitano se transformou no palco para famosos e artistas globais aparecerem, cantores nacionais lançarem os suas músicas, sabendo que os holofotes brasileiros se voltavam para a capital baiana neste momento. Como a nossa cidade é racista o carnaval na Avenida vai perdendo cada dia o espaço para o carnaval da Barra que foi pensado para a segregação da população.

Se soma ao carnaval de Salvador a violência onde o negro de folião nato se torna o folião segregado. O carnaval do apartheid, segundo pesquisa do Jornal A Tarde constatando que  " [...] 76% da população de Salvador não pula carnaval, e mesmo os 24% que pulam ficam espremidos entre tapumes e cordas de blocos. Para os negros a beleza de serem pipocas se transformou n tristeza de sair para se transformar no saco de pancada da polícia, trabalharem como cordeiros e pagarem para serem vendedores ambulantes.



Além a cidade se tornou cenário da violência policial que avança sobre todos brasileiros que estiverem na festa e turistas que o policial na hora sinta vontade de bater.  A matéria Racismo e Carnaval! Imagens da discriminação racial no Brasil, com base na pesquisa no a Tarde explica onde está o negro no carnaval de Salvador cuja referência está referenciada abaixo.


Referência

Racismo e Carnaval! Imagens da discriminação racial no Brasil. Blog Teorias versus e práticas. https://teoriaversuspratica.blogspot.com.br/2015/02/racismoemsalvador.html.
 


Boa leitura!
Rosi Barreto

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