sábado, 19 de novembro de 2016

AFRICA: ENTRE ACOMODAÇÃO, NEGAÇÃO E AFIRMAÇÃO.




AFRICA: ENTRE ACOMODAÇÃO, NEGAÇÃO E AFIRMAÇÃO.



ACOMODAÇÃO: COLONIALISMO, ÁFRICA POR ELA MESMA

Este texto foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de Feira de Santana num evento organizado pelo Núcleo de Estudos Africanos e Indígenas.

Hoje é o dia em que a nação brasileira comemora o Dia da Consciência Negra, 20 de Novembro. Ele foi aprovado no calendários escolar em 2003, mas foi com a lei 12.519, de 10 de novembro de 2011 que foi aclamado em nível nacional. Esta data foi eleita por que coincide com o dia do assassinato de Zumbi dos Palmares no ano de 1695 por Domingos Jorge Velho, que recebeu recompensa em dinheiro, terras e uma missa em ação de graças.

Este texto que foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de Feira de Santana, no ano de 2012. Hoje resolvi postá-lo em homenagem a nós, todos os negros e negras que resistem ao extermínio, ou genocídio, etnocídio, feminicídio e infanticídio desde 1549 quando chegou ao Brasil, o primeiro navio que traficava pessoas africanas escravizadas de forma criminosa.

O tema que sintetizarei é complexo, primeiro por que o continente africano não é homogêneo, aliás, nada é homogêneo em nenhum lugar. Onde existem homens e mulheres, pessoas, não existem homogeneidades, existem complexidades, hetrogeneidades e diversidade. Essa complexidade se agrava com o desconhecimento e ignorância da sociedade brasileira sobre a sua própria história e a do continente africano. O Brasil amputou a história do(a) negro(a) e dos aborígenes brasileiros(as) e da África de nossos currículos escolares, em vez disto nos foi oferecido em doses cavalares conhecimentos sobre o continente do colonizador, o europeu. Foi tão forte que não nos sensibilizarmos com as nossas desgraças, mas com as desgraças do colonizador que vem cometendo atrocidades desde séculos conosco e com os outros que consideram pessoas de segunda categoria. A África não é uma massa atrasada como afirma Gramicsi no livro ‘Os Intelectuais e a Organização da Cultural’ (1982, p. 20). Existe diversidade étnica, cultural, religiosa, social, política; história, escrita, organicidade e inteligência nas sociedades africanas. No continente africano existe uma infinidade de línguas fazeres e saberes étnicos. Contudo devemos compreender como nos aponta Cheick Anta Diop que existe unidade na diversidade africana.

DA ACOMODAÇÃO

O continente africano nunca se acomodou, muito menos os africanos no Brasil nem os africanos-brasileiros, na formulação de Luz(). Em quais aspectos podemos pensar que existiu acomodação no continente africano? Essa quase que acomodação transparece por que não conhecemos nem entendemos ao certo a forma como o colonialismo vigorou e neo colonialismo se retroalimenta no continente. Parece que os genocídios, etnocídios, a fome e outras sabotagens barram o continente africano e sua forma de resistência e enfrentamento. Segundo, os(as) africanos(as) tiveram e têm que enfrentado crimes que atentaram e atentam contra a sua cultura, expressão religiosa e suas próprias vidas. A invenção da arma de fogo e da metralhadora foi importante para a colonização. A Maxim foi utilizada pela primeira vez numa operação militar no Egito, oferecida por Hiram Maxim às forças Britânicas de, 1886 a 1890. Depois foi utilizada na campanha de pacificação, dos Boeres também em África. Por que em África? Quantas pessoas foram assassinadas nesse período, além dos outros tantos que morreram durante o tráfico negreiro criminoso? Qual o problema do continente africano é a sua riqueza ou pobreza? São questões a serem refletidas.

O continente africano e os afrodescendentes não se deixam acomodar totalmente mesmo com todas as adversidades que encontram e encontram pelo caminho. As suas formas de luta são invisibilizadas pelo sistema político, social e econômico capitalista racista de maneira geral, o que nos deixa a impressão de uma acomodação. Embora exista de certa forma, não é uma máxima. No Brasil a cultura de base africana representada nas irmandades, religiosidade, capoeira entre outras, são maiores exemplos de coragem da população negra contra o racismo. Basta pensarmos em mulheres como Kimpa Vita (Congo) que fundou o movimento antoniano (M’Bokolo), Nzinga (Angola) contra o tráfico transatlântico criminoso (Luz) e Sarraounia (Níger) contra os franceses. E as brasileiras Luiza Mahim, Zeferina, Dandara, Mãe Stela ialorixá do Ilê Axé Opôafonjá, Mãe Beata, Carolina Maria de Jesus dentre outras,

Outros exemplos estão nos africanos que interessados em desenvolver sua própria marcha desenvolvimentista e moderna, segundo seus preceitos e cosmovisão foram brutalmente assassinados a exemplo de em: 1957, Dedan Kimathi (Quênia); 1958, Reubem Um Nyobe (Camarões); 1959, Bathelemey Boganda (Rep. Centro Africana); 1960, Felix-Rolant Moumié (Camaõres)1; 1961, Jean-Pierre Finant (Congo), Joseph Okito, Maurice Mpolo e Patrice Lumumba (Congo Kinshasa)2; 1963, Sylvanus Olympio (Togo); 1965, Mehdi Bem Barka (Marrocos); 1966, Ossende Afana (Camarões); 1968, Pierre Mulele (Congo); 1969, Eduardo Mondlane (Moçambique)3; 1972, Ange Diawara Bidie e Jean-Baptiste Ikoko (Congo Brazzaville); 1973, Outel Bono (Chade)4 e Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde)5; 1974, Onkgopotse Tiro (África do Sul); 1975, Herbert Chiptepo (Zâmbia) e Josiah Kariuki (Quênia); 1976, Murtala Mohamed (Nigéria)6; 1977, Steve Biko (África do Sul)7 e Modibo Keita (Mali)8; 1981, Joe Gqabi (África do Sul); 1982, Ruth First (África do Sul); 1983, Attati Mpakati (Zimbábue); 1986, Samora Machel (Moçambique), 1987, Thoma Sankara (Burkina Faso)9, e Kadafi 2011 (Líbia).

Intelectuais como Cheikh Anta Diop, Jacques Depelchin, Ki-zerbo, Elisée Soumonni, Wamba dia Wamba, Hampate Bâ, Tehophile Obenga, Severino Ngoenha, Carlos Moore, Henrique Cunha Junior, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Chimamanda Adiche, Angela Davis, Bell Hooks, e nós que estamos aqui mostra que essa acomodação não nos afeta em sua totalidade. A acomodação atual está em alguns dos líderes africanos e dos países em desenvolvimento como o Brasil celebrarem acordos com países imperialistas, organismos e agências internacionais negociando suas riquezas. O que não se restringe apenas ao continente africano, no Brasil temos um exemplo recente as obras de Belo Monte, sem que nenhum parlamentar se abale com os impactos ambientais em sua totalidade e a atual tragédia de Mariana.

É importante notar que os africanos não se deixaram escravizar (Cunha Junior). Existe uma parte da população africana que preserva valores tradicionais. Mas também é mais importante saber que existe um sistema que está obcecado pela destruição da humanidade na África, principalmente pela sua riqueza, não pela sua pobreza. E os países da diáspora corroboram com as práticas racistas que dificultam a vida dos(as) negros(as) e perpetrando o preconceito anti-africano e antinegro. No Brasil, o exemplo mais recente se expressa pela dificuldade na aceitação das ‘Cotas para Negros’ nas Universidades que foram aprovadas como cotas sociais e a exclusão da população negra em todos os setores da sociedade. Quais são, os motivos pelos quais os racistas são contra as cotas? A obstinação não para, não dá tréguas pelo fato de a sociedade brasileira não suportar ver pessoas negras ascenderem a setores antes ocupados apenas por outros(as), os não-negros.

A sociedade brasileira não aceita lidar com mulheres e homens os indesejados, africanos(as) e afrodescendentes, em suma, não podem suportar qualquer coisa que desestruture o poder de quem por séculos de mantém no poder, os brancos(as), eles não suportam a comunalidade no poder, na divisão de espaços e conviver com a cultura dos que consideram inferiores. Questionemo-nos, porque tantos anos de obstinação para destruírem Palmares, Canudos e Caldeirão, os quilombos e as populações indígenas?

No continente africano existiram as guerras de expansão, mas elas nunca promoveram genocídios em massa como a humanidade assistiu com o tráfico transatlântico criminoso e a escravidão africana na diáspora. Um verdadeiro holocausto que traz até hoje suas consequências não devendo nada ao crime cometido contra os judeus. Nessa escravidão se negou totalmente e humanidade, a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres africanos atribuindo-os diretamente ao atraso. O que não corresponde com a realidade. Aliado a isso convivemos diuturnamente com a negação da filosofia e história africana e dos afrodescendentes. Os currículos escolares nos oferecem a história e exemplos da acivilização ocidental quando promoveram suas guerras, genocídios, suplícios, violência física e simbólica contra si e contra os outros. E que é o bárbaro e selvagem? Aimé Césaire observa que

[…] uma civilização que é incapaz de resolver os problemas que cria é uma civilização decadente. Uma civilização que opta por ignorar os seus problemas mais cruciais é uma civilização agonizante. Uma civilização que ludibrie com os seus princípios é uma civilização moribunda. O fato é que a própria civilização "européia", "ocidental", como em dois séculos moldaram o regime burguês, é incapaz de resolver dois grandes problemas que a sua existência gerou: o problema do proletariado e o problema colonial, que se refere ao limite da "razão", como ao limite da "consciência", que a Europa é incapaz de ser justificada, e que, cada vez mais, ela se refugia em uma hipocrisia, especialmente porque ela emprega menos esforço para evitar a induzir a erros. (Tradução Nossa)

Ariès (1981) em História Social da Infância e da Família aponta acontecimentos na idade antiga referentes ao tratamento dados às crianças na infância - o infanticídio, à família, à privacidade, ao trato com a terra que em nada corresponde à mesma época no continente africano, o que demonstra a civilização dos povos africanos. De acordo com o filósofo moçambicano Severino Ngoenha (2007), o desafio africano é aliar a tradição ao moderno preservando a cultura, a cosmovisão africana por que isso diz respeito a resolver problemas criados pelos efeitos nefastos do colonialismo. No que tange à escravidão, mesmo tendo existido no continente africano e nos quilombos (o que não é especificidade africana, porque existiu escravidão em outros locais) ela em sua forma nunca negou a humanidade das pessoas. A democracia sempre existiu na forma em que se exercia o poder, poder esse descentralizado e compartilhado com respeito ao mais velho, considerando a sua experiência de vida (KI-ZERBO, 2006), (HAMPATÉ BÂ, 2003). O respeito ao idoso é e era de fundamental importância o que não vemos na sociedade ocidentalizada brasileira, civilizada, democrática onde temos e precisamos do estatuto do idoso, elaboramos leis para obrigar esse respeito.

A filosofia banto nos presenteia com esse pensamento que está subjacente à irmandade do Rosário dos Pretos de Salvador. E está em consonância com a filosofia egípcia. O NTU, o princípio da existência de tudo. “O Muntu é a pessoa constituída pelo corpo, mente, cultura e palavra. O Ubuntu, a existência definida pela existência de outras existências. Eu nós existimos porque você e os outros existem, tem um sentido colaborativo da existência humana coletiva nisto [...] A natureza como respeito profundo a vida. [...] Uma criança nasce e de imediato é classificada na categoria de coisas, seres animados, até que através da palavra falada alguém lhe dê um nome e o pronuncie. A palavra transforma o ser animado potencial humano, passível de inteligência humana a ser desenvolvida.” CUNHA JUNIOR (2010, p. 26-31) . Vemos que os princípios africanos presentes na África pré-colonial eram nobres e creio que devem continuar sendo, mesmo tendo sofrido abalos com após ser invadido por Portugal, França. Espanha, Inglaterra, Bélgica, Itália, Holanda, Dinamarca, EUA, Suécia, Áustria-Hungria e Imperio Otomano.



NEGAÇÃO: A AUTONEGAÇÃO, A NEGAÇÃO DOS DE FORA,

A negação e autonegação ocorre pelo fato de desconhecermos a história africana, dos afrodescendente e dos africanos no Brasil. Inicia na África quando os africanos são induzidos a desconhecerem a sua história nos bancos escolares, por que a educação escolar tempo em que educa, aliena as pessoas de sua história. “Uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade” afirma o ministro da propaganda da Alemanha Nazista, Paul Joseph Goebbels. A afirmação e escuta permanente da ausência de cultura, história, civilização repetidas muitas vezes por séculos, se constituiu em verdade, e as pessoas se negam e não querem ver o que contraria o que lhe foi veementemente afirmado. Temos inúmeras obras não traduzidas e as que são traduzidas corroboram com para colonialização do saber e do conhecimento e com a neo-colinização. Hoje em Cabo Verde os portugueses ainda sufocam os caboverdianos com sua literatura impondo ainda a sua presença, além da presença chinesa. Essa negação é corroborada para o bem do capitalismo e do consumo exacerbado. No Brasil não é o contrário.

Uma vez reconhecendo que existe uma história africana, que é alicerce para a história da humanidade se demolirá a negação e autonegação da África. O colonialismo foi e continua sendo que entrou no continente africano, latino-americano dentre outros, abriu uma ferida incurável, o racismo que nega a humanidade. Uma vez negada a humanidade de alguns, se condena a humanidade inteira, desestruturando e desequilibrando as populações africanas e na diáspora africana. Este desequilíbrio, que também nos põe em divergência com outros seres humanos, levou os líderes africanos a colaborarem com a colonização e neo-colonização, não diferindo no Brasil. A humanidade tirada dos africanos, restrita apenas ao branco europeu, aliena-se a humanidade à branquitude. Em Paris, no ano de 1789 os representantes do povo francês declararam os direitos imprescritíveis do homem, liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão. O que não foi estendido para os africanos no Haiti. O que criou por uma parte o sentimento de superioridade em alguns e noutros o de inferioridade e autonegação de valores, cultura, religiosidade.

Os colonizadores europeus sempre pensaram os africanos como objeto de exploração territorial econômica, não diferindo hoje dos países não-europeus, a exemplo do Brasil, agindo atualmente como um predador da África. exatamente como os colonizadores. A supressão cultural e religiosa africana, que era o alicerce das sociedades africanas Achebe ( 1983), novamente o Brasil com a leva de igrejas neopentecostal, as empresas brasileiras em África. Contudo, a família, os laços consanguíneos e de parentesco; matirlinearidade e patrilinearidade, o exercício do poder distribuído para que todos que se sintissem participantes, não representados como em nossa democracia, a tradição oral, são valores que foram abalados, mas muitos não se perderam (ALTUNA, 1983).

AFIRMAÇÃO: FILOSOFIA AFRICANA, RELIGIOSIDADE, EXPERIÊNCIA DE BRASIL E FORTALEZA

A ancestralidade, a religiosidade, a circularidade, a energia o axé (ioruba) (LUZ, 2000). O ntu (banto) ALTUNA (1983). O que corresponde ao maat egípcio, (Obenga) e a tradição oral que também são responsáveis pela afrobrasilidade, ou cultura de base africana e valores resignficados em algumas organizações sociais, nas manifestações culturais simbólicas, estéticas e dos saberes africanos resignificados no Brasil. São saberes e fazeres tradicionais persistentes a exemplo das iniciações africanas e as celebrações fúnebres (Guiné-Bissau). Em Bom Juá nas décadas de 1940, 50, 60 e 70 ainda existiam as sentinelas e em Plataforma Salvador - BA permanece, independente da idade do morto, o cortejo fúnebre seguir até o cemitério levando o caixão nas mãos. A morte embora para alguns seja o fim da vida, ou para outros a ressurreição no dia do juízo final (pensamento religioso cristão) na religião do candomblé é a passagem para a vida no mundo invisível, junto aos ancestrais, por esta razão de realiza uma cerimônia chamada Axexê. Outro valor afirmativo é a propriedade coletiva em detrimento da privada. A solidariedade em detrimento da individualidade, vemos hoje em algumas comunidades tradicionais os quilombos e nos terreiros de candomblés.

Os lugares/territórios são compostos de seres humanos e os seres humanos modificam as coisas diante de suas necessidades e momentos históricos. Os povos africanos produziram civilizações, e elas atendiam às necessidades da época, o que denota que as tecnologias africanas africanas eram avançadas antecedendo às dos europeus (matemática,filosofia, agricultura, medicina, astronomia etc). Por essa razão não podemos atribuir a esse continente a ahistoricidade, a aculturabilidade, a acivilização. Todos os povos têm civilização desde que pensemos que a civilização tem aspectos particulares e singulares. E que entendamos que a civilização é ampla não atendendo apenas a uma lógica e ótica, a eurocêntrica.
Selecionada para o mestrado em educação na UFC, tive a oportunidade de viver fora de meu estado. Nele nunca tive a experiência de ser tão admirada, “elogiada”. Em Fortaleza os homens e mulheres de pele escura são cotidianamente lembrados de que aquele não é o seu lugar, nem lugar de africano
(a). Um exemplo para falar de acomodação, negação e afirmação: mesmo eu estando falando o português com sotaque baiano, ou se o(a) negro(a) for cearense com sotaque local é oriundo(a) de qualquer país africano. O que considero nossa acomodação aos ditames racistas e antiafricanos na sociedade brasileira tempo em que é negação da pessoa e de valores negros, e afirmação de racismo criminoso contra afro-brasileiros e africanos(as).

O reconhecimento da filosofia africana é um exemplo de afirmação. Existe um esforço de Teophile Obenga em afirmar a filosofia africana, Cuhna Junoir, Severino Ngoenha nos mostrando que a filosofia tem origens no Egito e que existem outras filosofias no continente africano. No que tange à religiosidade, mesmo com a invasão desrespeitosa de outras práticas religiosas (islamismo e catolicismo e atualmente o neo penteconstalismo) a religiosidade africana se mantém associada a essas outras práticas religiosas. Os africanos associaram e incorporaram o que lhes interessava das outras religiões. a exemplo do que nos trás Hampate Bâ e os exemplos dos estudantes guineenses, nigerianos. Embora muitos não tenham tido contato com sua religiosidade. Essa religiosidade que não se afasta da vida social nem afasta Deus das pessoas. Deus na religiosidade africana é onipresente, inquestionável. Assim como na religião do candomblé, os orixás são seres divinizados, ancestrais. A religiosidade africana não prima pelo sofrimento e sim pelo equilíbrio e felicidade nem entende a morte como o fim e sim como um rito de passagem de um estágio da vida para outro: A morte é energia reenviada para o divino. É o retorno ao divino que é a energia inicial. É o retorno ao início.

O colonialismo europeu ignorando a complexidade das populações africanas e objetivando a destruição por conta de sua ganância inculca o contrário nas mentalidades, muitas vezes alvo de colonização metal e cria uma entidade denominada satanás, inexistente nas religiões africanas e de matriz africana para desequilibrar as nossas mentes erigindo a satanização das nossas religiões e das africanas. Cria as teorias racistas e nelas inferioriza e desumaniza todas as práticas sociais africanas.

O candomblé, umbanda, o samba, a capoeira no Brasil são símbolos de resistência afro-brasileira ao colonialismo, racismo criminoso, preconceito anti negro a preconceito antiafricanao. A África tem tudo para se reconstituir mesmo na modernidade por que trás em si complexidades desde seus primórdios e não seria diferente no momento atual, como sabemos a África inaugura tecnologias. O candomblé e a capoeira angola, são atualizações e resignificações, o que significa que se houve possibilidades fora da África na adversidade é possível para a África atualizar-se nos momentos atuais se os países desenvolvidos e ditos em desenvolvimento não sabotarem a marcha desenvolvimentista africana. Se os países desenvolvidos criarem seus próprios meios sem extorquir o continente africano e os outros em detrimento de seu próprio desenvolvimento. Exemplo: Cabo Verde: na existem editoras, os livro são importados de Portugal. Não existe agricultura por que os portugueses plantaram uma erva daninha que seca o solo, a universidade pública se nega a tratar sobre história africana, contudo a afirmação existe no sentido de um grupo de professore insatisfeitos criarem uma universidade particular para discutir sues problema e afirmarem sua história. exemplo, em Angola um campanha ferrenha para o uso do leite industrializado em detrimento ao aleitamento materno para a comercialização do leite Ninho. É a nestlé, por trás das campanhas. Enfim, a afirmação do africano e do afrodescendente é uma tarefa árdua.

A África pensanda por ela mesma pode se estruturar, se formos capazes todos(as) de conscientemente barrar o neo-colonialismo porque ela não não fará, se não é a barbárie? Grande parte dos jovens africanos em Fortaleza, e principalmente os caboverdianos, se vêem africanos no Brasil, mas por serem discriminados e serem confundidos com pessoas “cheias de doenças” mesmo não aparentando serem doentes. Exemplo Andy, “Quando cheguei não dava conta de minha cor. Muito menos do estigma. Aqui pude me enxergar como diferente. A ignorância das pessoas veio de brinde, com o preconceito” O caboverdiano aqui citado não quis ser grosseiro e preferiu tratar o racismo como apenas um preconceito.

Ainda segundo informações de Andy para o Jornal o Povo: Andava com bermudas e chinelos, quando viveu no Papicu, para evitar os ladrões, “porque o bairro é violento”. Então era confundido com o próprio perigo – algumas pessoas atravessavam a rua. Se vestisse jeans e polo, era assaltado. Há uns meses, procurava apartamento no Benfica. Bateu à porta da senhoria: “Estou interessado no quarto para aluguel”. Ela olhou para os lados e gritou: “Socorro!”. E o colocou para fora dali. Sem mais.

Nós brasileiros que temos muita coisa da cultura de base africana, precisamos conhecer a história africana e identificar a nossa relação com a África que é o que temos de melhor para reconstruirmos a sociedade de maneira digna e solidária, primando pelos valores africanos de solidariedade, comunidade, equilíbrio, sociabilidade e verdadeira democracia. E olharmos onde nos levaram, e nos levarão os valores europeus da individualidade, consumo, e exploração do que é alheio.

Deixar os africanos pensarem o que é melhor para eles sem deixar se levar pelas interferências externas, mas como fazer isso com o sistema capitalista que se mostra nas entrelinhas racista e antinegro e
preconceituoso com as filosofias, cultura e religiosidade africana.  


NOTAS

1 De acordo coma nota de rodapé Moore (2008, p.49) denuncia que esse líder africano, importante téorico pan-africanista, dirigente Da União das Populações de Camarões (UPC). Foi assassiando com o veneno Tálio, em um hotel em Genebra, Suiça, pela “Mão Vermelha”, uma seção do Serviço de Inteligência Francesa (SDECE) que se encarregava, na época, de exterminar os dirigentes nacionais africanos nas colônias francesas.

2Primeiro-Ministro do Congo, assassinado num complô orquestrado pelos EUA, Bélgica e França Op cit.

3Presidente da FELIMO (Frente Libertadora de Moçambique), assassinado pelo Serviço de Inteligência de Portugal (PIDE) com uma bomba. Opcit p. 50.

4Dirigente pan-africanista assassinado em Paris com dois tiros no peito pelo Serviço de Inteligência da França (SDECE). Op. cit..

5Líder da Gunié-Bissau do (Partido pela Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde), assassinado pelo Serviço de Inteligência de Portugal (PIDE) com participação de traidores do movimento. Op cit.

6Presidente da Nigéria, foi assassinado pelo serviço secreto dos EUA (CIA) e da Grã-Bretanha (MS).

7Assassinado na detenção pelo regime do Apartheid, foi propulsor da filosofia consciência negra. Op. Cit.p.51

8Presidente do Mali, foi eliminado por emergência de um golpe de Estado promovido pela França. Op. Cit.

9Primeiro-Ministro, assassinado em sua residência, presume-se que pelo governo francês. Op. cit. Maiores informações a cerca de motivos que levaram ao extermínio de inúmeros líderes africanos, estão disponíveis em: MOORE, Carlos. A África que Incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro. Belo Horizonte:Nandyala. (Coleção Repensando a África, v. 1), 2008. 217 p.

 notas



REFERÊNCIAS

ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Asúa. Cultura tradicional banto. Secretariado. Arquiduidiocesano de Pastoral, Luanda, 1985.

ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Tradução de Dora Flasksman. Rio de Janeiro: LCT, 1981.

BÂ, Hampâté Amadou. Amkoullel, o menino fula.Tradução Xina Smith de Vasconcleos. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003.

ACHEBE, Chinua Achibe. O Mundo se despedaça. São Paulo: Ática, 1983.

MOORE, Carlos. A África que Incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro. Belo Horizonte:Nandyala. (Coleção Repensando a África, v. 1), 2008. 217 p.

Ki-ZERBO, Joseph. Para quando África? Entrevista com René Holenstein. Tradução Carlos Aboim de Brito. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

Racismo à brasileira: Em Fortaleza, Andy Monroy – estudante caboverdiano – confundido com o próprio perigo. <http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2011/08/22/racismo-a-brasileira-andy-monroy-estudante-caboverdiano-em-fortaleza-confundido-com-o-proprio-perigo/>.



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